Vastas emoções, pensamentos imperfeitos…oh! como me sinto representada nesta fala de Rubem Fonseca, na verdade, título de um de seus livros que, com este início, já mostra a que veio… De fato, foram muitas as emoções vastas, intensas e contraditórias que sentimos nesse tempo confinado, sem poder trocar com os outros da maneira direta como fazíamos. E o que dizer do pensamento, afogado nessa correnteza emocional. Cada um se virou como pode. Mas, vacinados, eis que recomeçamos a sair de nossas casas. A minha sensação é a de que nada será como antes* (hoje estou gostando de citar artistas e escritores!) E nem deveria, porque foram tempos difíceis, muita coisa teve de ser reinventada, repensada e não pode ser esquecida. Uma delas, sem dúvida, é a questão da realidade virtual, como ela nos auxiliou, ainda que não sem alguma frustração, a nos manter conectados! E, muitas vezes, com pessoas que vivem longe de nós, mas que, ‘magicamente’, estão ali do lado, compartilhando a mesma tela. Isso me conforta demais, parece mesmo que o mundo fica mais aconchegante; família, amigos, parceiros (antigos e novos) de trabalho, todos ali!
E sobre botar o nariz pra fora de novo? De máscara, claro, quando a situação exige. A sensação é um tanto diferente do que sempre tinha sido. Por isso mesmo sinto que é o momento de aproveitar para refletir sobre nossa atuação nos espaços públicos. Eles estão aí para nós, cidadãos. Por que não utilizarmos esses espaços para fazer um ensaio musical, uma leitura em grupo, uma atividade de interação artística? Sei que isto não é novidade, e que muita gente sempre fez e faz isso. Mas, contextualizando aqui, nos meus trabalhos artísticos/musicais, senti e pensei em fazer o seguinte: ensaios virtuais semanais, já que em meu grupo há cantores de cidades diversas (sim, a ciranda cresceu!), e, com menor frequência, mas sempre, encontros presenciais, em parques e praças escolhidos por afinidades com o grupo. Coube a mim como regente, escolher os dois primeiros: ‘Trianon dos meus amores’ e ‘Parque Augusta, uma longa história’.
Desta maneira estaremos lá, presentes, ofertando como um presente, a nossa arte!
Foto de Adi Leite
*Nada Será como antes, canção de Milton Nascimento
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